Conhecida como “Dona Cleia”, Clesia Tiecher mantem, por anos, na zona rural de Ijuí, a tradição do benzimento. Os muitos anos atuando no acolhimento a pessoas que chegam até seu sítio buscando a cura através das folhas e orações de tradição católica, fazem dela uma grande devota de Nossa Senhora Aparecida e conhecedora das ervas e plantas medicinais.
Atuando no Distrito de Alto da União, dona Cleia construiu uma “casa de reza”, onde ficam guardados os santos, as linhas e os óleos utilizados para os benzimentos. Apesar de algumas contradições quanto à relação das “benzedeiras” com a igreja, Cleia explica que nunca teve problemas. “Todos temos a nossa fé. No final de tudo, sempre é Deus”, resumiu.
A benzedeira foi, durante muito tempo, a única alternativa que grande parte da população teve para tentar resolver problemas como dores físicas e espirituais. Apesar do avanço da ciência, muitas pessoas ainda optam pela bênção da benzedeira, mesmo com o tratamento médico. Dona Cléia aprendeu a benzer com quatro senhoras, que em razão da idade, optaram por abandonar a atividade. “Me disseram que eu tinha que decorar a reza em 15 dias. Se conseguisse, poderia benzer, caso não, não estava apta”, releva.
A benzedeira é enfática: “primeiro as pessoas vão no médico, claro, depois procuram o benzimento”. A reza, no entanto, só faz efeito, se a pessoa tiver muita fé. “Não adianta vir aqui sem fé. Às vezes a pessoa chega e eu vejo que ela não acredita, então nem adianta. Precisa ter muita fé”, disse. Dona Cléia gosta de benzer contra “olho gordo”, quebrante, dores e indisposições. “Já benzi mais de mil pessoas”, revela.