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De Igreja para abrigo: pastor relata rotina dos abrigados na Igreja Batista Brasa Zona Norte de Porto Alegre

16 de maio de 2024

O que até então era um espaço de apoio espiritual, agora se transformou num lar para mais de 160 pessoas. Localizada no bairro Ipiranga de Porto Alegre, a Igreja Batista Brasa Zona Norte se tornou local de abrigo a centenas de famílias que precisaram sair de casa em razão das enchentes. A quadra de vôlei de areia da igreja, agora foi transformada num canil, com dezenas de animais de estimação que acompanham seus tutores que perderam suas casas e seus pertences. Em entrevista à Rádio Progresso, o pastor Alberto Voskelis relatou a rotina dos desabrigados nesses mais de dez dias de convivência. Atividades que antes eram simples, agora exigem horas de organização, como é o caso do banho. Segundo o pastor, um dos responsáveis por coordenar todas as atividades no abrigo, até alguns dias atrás, o momento de higiene pessoal era um grande desafio. Parte dos desabrigados eram colocados num ônibus e precisavam ir, diariamente, até um clube bastante distante para poder, de forma organizada, um a um, garantir o banho. Agora a situação melhorou, a igreja conseguiu uma parceria com uma academia localizada na mesma rua, que empresta os chuveiros para que as famílias possam ao menos ter um pouco mais de conforto na hora do banho.

Além dos adultos, são dezenas de crianças de diferentes faixas etárias abrigadas na igreja. Para elas a organização disponibiliza de uma praça com brinquedos, além de uma equipe que diariamente desenvolve atividades lúdicas, contação de histórias, além de momentos com música e dança. Segundo o pastor Alberto, é uma forma de desviar o pensamento das crianças da tragédia que assola nosso estado. Além disso, filmes e series são exibidas num telão todas as tardes, para todos os que estão no abrigo.

Além de todo trauma de quem perdeu tudo, dezenas de desabrigados chegam ao local com enfermidades, muitas delas causadas pela própria enchente, depois do contato com água contaminada. Por isso, a igreja também se transformou num ambulatório. Equipes médicas estão disponíveis 24h com psicólogos e psiquiatras, para cuidar da saúde dos desabrigados. “ O cuidado é com o corpo, alma e espírito” ressalta o pastor Alberto.

Mas pra quem pensa que os desafios param por aqui, está muito enganado. Imagina alimentar mais de 160 pessoas, com quatro refeições diárias. Segundo o pastor Alberto, uma alternativa encontrada foi a parceria com outras igrejas, restaurantes e voluntários para que as refeições sejam enviadas prontas. Diariamente chegam até o local 500 refeições para o almoço, mais 400 para o jantar, além de lanches para o café da manhã e tarde.

Agora, um dos principais problemas relatos pelo pastor, é a constante diminuição no volume de doações que chegam ao local. “Hoje já sentimos falta de alimentos não perecíveis. Como somos pontos de distribuição, pessoas que estão desalojadas vem buscar agasalhos e comida conosco. Mas esse volume vai diminuindo, já estamos há mais de dez dias, e não temos nenhuma perspectiva de até quando vamos vivenciar essa situação” relata pastor Alberto. Ele reforça que as doações mais necessárias agora, além de alimento, são roupas de frio, roupas íntimas tanto para homem, mulher e crianças. Inclusive ele fez um cálculo que só comprova ainda mais a necessidade: são necessárias mais de 2 mil e 200 peças de roupas íntimas semanalmente. Todo esse relato feito pelo pastor só reforça uma ideia: as doações precisam continuar.

Ouça abaixo a entrevista completa: 

Fonte: RPI