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Conheça Tati da Estrada: Mulher que vive às margens da BR-285, em Ijuí

11 de abril de 2025

Andarilha segue há décadas por rodovias brasileiras com cães resgatados e sem residência fixa

Viajando pelo Brasil desde os seus 19 anos, Tati da Estrada é uma mulher simples, que vive às margens das rodovias do país acompanhada apenas de seus cachorros, atualmente são 11. Ela está na BR-285 sentido à Bozano, próximo destino. 

Abandonada aos 14 anos após negar a prostituição para sustento da própria mãe e do padrasto, aos 19 anos descobriu na estrada um refúgio. “A minha família nunca gostou de mim, conheci minha mãe aos 14 anos, fugi e comecei a viajar pelo mundo de caminhão”, disse Tati. 

A mulher, de 45 anos, conta que teve um terreno em seu nome em Uruguaiana/RS, mas foi enganada pela própria tia que vendeu e ficou com o dinheiro. A partir daquele momento, já com 19 anos, passou a percorrer os estados brasileiros. 

Atualmente Tati da Estrada, nome pelo qual se identifica, passa pela região de Ijuí, na BR-285. “Ela vive acampada às margens da rodovia há algum tempo. Mas chegou a nossa circunscrição em meados de 2023 por intermédio da BR-158, em Júlio de Castilhos. Desde que constatamos a presença dela às margens da rodovia buscamos junto aos órgãos assistenciais, dos municípios onde ela se localizava, eventual apoio e assistência” salienta Vilmar Keske, Chefe da Polícia Rodoviária Federal (PRF), de Ijuí. 

Tati diz que sobrevive através de doações, muitas feitas através de pessoas que passam pela rodovia, ou mesmo através de uma chave pix. Ela diz que já recebeu propostas para “sair da estrada”, porém, não é possível se manter e continuar a tratar os animais com o valor do benefício social, principalmente se precisar pagar aluguel. 

Quando questionada sobre uma residência fixa e a mudança do estilo de vida, ela sorri e diz: “ninguém vai me dar uma casa”. “Todos já abordaram ela, a secretaria já esteve lá com duas assistentes sociais mulheres oferecendo local para dormir, para que ela saísse da estrada, principalmente no momento em que ela estava na duplicação (BR-285). inclusive foi oferecida comida, mas ela disse que não precisava” explica a Secretária de Desenvolvimento Social de Ijuí, Andreia Amorim.  Tati diz que a secretaria passou por lá mas não levou nada, “se é apenas para me ver então não precisa vir até aqui” conclui a viajante. 

A preocupação das pessoas que transitam pelas rodovias e veem Tati às margens é com relação a acidentes de trânsito. Ela diz ter presenciado poucos acidentes durante a trajetória e brinca ao dizer: “são sempre a uns 15 quilômetros pra frente ou pra trás, nunca é comigo”, mas reforça que não teme: “eu sei que as pessoas têm medo, mas eu digo: eles (motoristas) são muito apressadinhos” finaliza. 

Tati diz que sempre que tem a oportunidade coloca o carrinho mais afastado da rodovia. A PRF também cedeu alguns cones que auxiliam na identificação. “Quanto a eventuais riscos de viver à beira da estrada, ela afirma que não tem medo, e que isso faz parte da sua escolha. Trata-se de uma pessoa que, ao que o Ministério Público também concluiu, é maior de idade e perfeitamente capaz, que sabe como buscar seus direitos quando necessário, portanto está livre para fazer suas escolhas. Visando mitigar os riscos, buscamos frequentemente propiciar sinalização no local onde ela acampa, bem como, orientando para ela se manter o mais afastada possível da via, como também não deixar materiais ou lixo abandonados, mas, ela não é uma pessoa de fácil interação”, salienta Keske. O fato é confirmado pela Secretária Andréia Amorim que salienta a lei dos direitos humanos: “Conforme a lei dos direitos humanos nós não podemos obrigá-la, só se for uma questão de saúde. Ela vive assim e diz estar apenas de passagem no município “, conclui. 

Para adquirir o que mais precisa, Tati envia um valor através do pix para uma amiga que compra e leva até ela, ou mesmo sobrevive através das doações de transeuntes. “A assistência social veio me ver, mas não trouxe nada, em outros municípios como Tupã eu recebia cestas básicas, em Cruz Alta também me levaram cestas básicas em algumas oportunidades”, salienta. “Eu sei que preciso ter pelo menos 5 anos de estadia em um município, e passando fome, para conseguir ganhar uma casa” diz a caminhante, que reforça “nunca nenhuma prefeitura me ofereceu residência”. 

Tati da Estrada lembra que uma vez quando estava no Paraná e passava pelo município de Maringá, foi informada como forma de deboche, que “as casas são para quem tem família”. Por isso, quando ela quer tomar banho ou ficar em algum lugar paga aluguel, porém, se precisa pagar água e luz, não sobra dinheiro para a alimentação. 

A andarilha vive em uma espécie de barraca que é montada com uma lona acoplada em carrinhos, que servem de abrigo para ela e também para os animais. Ela trafega pelas rodovias do Brasil puxando os carrinhos com a força dos próprios braços. Os cachorros são todos oriundos de resgates realizados durante o percurso, e Tati conhece a história de cada um. “Eu vivo sempre sozinha e sou feliz assim! Já fui muito agredida por homens, então hoje sou eu e os meus cachorros”, frisa. 

Keske diz que “Através da PRF foram feitos todos os esforços possíveis para auxiliar a andarilha, contudo, a mesma insiste em manter a vida que leva, ou seja, não aceita de maneira alguma ser acolhida em algum local ou abrigo, reafirmando sempre que escolheu andar sozinha e está bem” concluiu. 

Andréia Amorim diz que deve tentar uma nova abordagem: “Se ela possuir algum benefício podemos tentar um aluguel social. Nós já fomos pelo menos duas vezes até ela, e devemos ir novamente nos próximos dias” finaliza. 

Tati quer sair do estado antes do inverno, mas as chuvas dificultam o tráfego e o abrigo: “acho que eu vou pra Bahia, quero sair do frio, antes do inverno”, diz a viajante que ao ser questionada do que mais precisa lembrou mais uma vez dos animais: “ração e água”. A andarilha está atualmente no trajeto da BR-285 no sentido Bozano e conforme ela, pretende sair do estado em breve, as ajudas podem ser feitas pessoalmente ou através do pix:  5599732-1470.

Fonte: Rádio Progresso de Ijuí
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