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MANCHETES

Aos 24 anos Ajuricabense Diessica Michelson emociona ao compartilhar experiência com a descoberta de câncer de linfoma

28 de novembro de 2022

Essa é uma daquelas histórias de força , superação e inspiração. Ao iniciar 2022, a ajuricabense Diessica Michelson não imaginava os desafios que viriam pela frente. O primeiro semestre foi como um ano normal pra Diessica, que é estudante de Doutourado em Educação nas Ciências pela Unijuí. Como qualquer jovem, Diessica dividia sua rotina entre trabalho, estudo e as correrias do dia a dia. E foi justamente a essa rotina corrida que a jovem atribui os motivos das mudanças que começou a sentir em seu corpo, como por exemplo o cansaço exagerado e a perda de peso. Mas pouco depois, no mês de Agosto, depois de muita resistência em dar uma pausa na rotina para realizar exames, veio a descoberta e a surpresa com um diagnóstico que a Diessica não esperava. As palavras a seguir foram escritas por ela mesma, em um depoimento em sua rede social Facebook. Em contato com a reportagem da Rádio Progresso, Diessica aceitou compartilhar a sua história, ciente de que ela já é inspiração e exemplo de coragem. Confira:

“Ao ver essa foto pensei: será que precisa de legenda?

Pois nesse exato momento estou sentada fazendo o meu 4° ciclo de quimioterapia, ou seja, embora as fotos nem precisassem de legenda eu estou com tempo para escrever ao menos um breve “depoimento”. E lá vai:

Agosto de 2022 foi um mês complicado para mim. Era muito cansaço – tanto físico quanto psicológico -, mas claro que “a culpa era da rotina”. Em menos de duas semanas “perdi” 3kg, mas claro que “a culpa era da rotina”.

“Tô muito estressada, vou voltar ao pilates. Acho que também vou aproveitar a fazer yoga, vai me ajudar”. E realmente me ajudou muito, muito, muito.

Foi entre essas aulas que abriram meus olhos e meu anjo, mais conhecida como Juliane Adoryan, me falou: “Dié, você precisa fazer exames”. Algumas pessoas já tinham me falado isso, mas ao ouvir a Jú foi diferente.

Pausa para as lágrimas nesse exato momento.

24 de agosto exames realizados.

25 de agosto os resultados: “Diessica, você precisa consultar. Você está sem sangue no corpo […] Mas não se preocupa, vai dar tudo certo…”.

Eu realmente não tinha entendido nada. Logo fico sabendo que preciso ir em uma hematologista. Uma busca por consultas, por horários disponíveis o mais rápido possível.

“Me envia uma foto dos resultados dos teus exames.” – Palavras da hemato Cheila Eickhoff.

Resultados analisados.

“Preciso que você refaça novamente esses exames na Hemovita”.

Ops! Eu não estava entendendo o motivo. Agora acredito que nem a médica estava acreditando nos resultados absurdos.

26 de agosto exames refeitos e novamente encaminhados.

“Vai precisar internar”.

17h30 consultei. Várias hipóteses surgiram e a principal: leucemia.

Chorei horrores. Choraram horrores comigo.

“Por que eu Deus? O que eu fiz pra merecer isso?” Quantas perguntas, quantos questionamentos inevitáveis.

18h30, aproximadamente, internei.

Muitos exames a serem feitos. Muitos exames feitos. Muitos resultados alterados:

• Os rins não funcionavam bem. Inchados;

• Os pulmões com manchas;

• Os ovários com uma massa não reconhecida.

Segundo meus pais as palavras que a médica disse para eles foram: A Diessica é muito nova e nós (médicos) estamos achando muitas coisas nela.

Coisas ruins, óbvio.

Iniciamos as transfusões de sangue – a quem interessar possa: sou A+. E cirurgias.

Quem me dera se os dias passassem rápido dentro de um quarto de hospital.

Talvez se eu pudesse comer coisas com sal…

Estava exausta. Inchada. Retenção de líquido imensa. Desconfortos.

Iniciei hemodiálise. O cansaço triplicou (ou quem sabe foi até mais). Colocar o cateter foi o que mais me assustou. Gritei, chorei, fiquei com muito medo… Foi uma sensação terrível.

Biópsia. Mais transfusões, mais ‘hemo’, mais outras cirurgias. O tempo não passava. As perguntas continuavam. “Até quando vou ficar aqui? Eu não aguento mais. Eu quero ir embora.” Era o que eu mais falava.

Choro. Ansiedade. Visita do psicólogo. Remédios para conseguir dormir.

E o doutorado? E o Enaced? Eu precisava participar, mas não podia. Precisava não, eu queria. Chorei também por isso!

O resultado da biópsia chegou: câncer de linfomas. Faltava descobrir o seu “sobrenome”.

Primeira quimio foi melhor que o esperado.

Logo depois ficamos sabendo: Linfoma Folicular não-hodgkin.

Durante os banhos tive momentos desagradáveis: os cabelos começaram a cair. “Por que comigo? Eu cuidei tanto pra ele ficar do jeitinho que eu queria. Me dediquei tanto a transição e agora eu vou perdê-los?”.

Raspei e, por incrível que pareça, não chorei.

Chegou o dia da segunda quimio. E o câncer aumentou.

Logo depois uma bactéria e precisei ficar isolada. Tive reações com o antibiótico, não conseguia dormir, meu corpo literalmente coçava muito, muito, muito. Dos “fiapos” de cabelo até o dedo do pé. Remédios suspendidos.

Poucos dias depois, 13 de outubro de 2022, o dia de glória chegou… apesar de toda a situação o médico me liberou para ir pra casa. Outra vida.

Não me sentia 100% bem, mas aos poucos as coisas começam a melhorar. Estar em casa ajuda muito. Alguns desconfortos continuaram. Consultas, remédios e exames. Terceira químio foi um sucesso e espero que a quarta também seja!

Era pra ser um breve depoimento e, na verdade, é. Suprimi muitos detalhes para não deixar tão longo, ou seja, mais longo ainda.

Agora a pergunta mudou. O que antes era “por que eu?” agora é “por que não eu?” A foto entrega tudo.

Aprendi muito durante os 48 dias que fiquei internada. Criei até amizades… com outras pacientes, com as enfermeiras. Tive companhias maravilhosas me cuidando:

meus pais, minhas tias, minhas amigas. E esses momentos fazem a gente conhecer cada um ainda mais. Recebi tanto carinho virtual e tantas mensagens, até mesmo de pessoas que não conhecia. Criei coragem e ao mesmo tempo percebi que tenho muita força.

Percebi também que precisamos de pouco para ser feliz. Notei a importância de agradecer por tudo, as quais muitas vezes não damos valor: poder caminhar ao ar livre, ter comida e poder temperar do jeitinho que quiser, ter uma cama confortável, poder se higienizar sem auxílio de outra pessoa e tantas outras coisas.

Sou muito feliz por tudo isso. Feliz por ter pessoas que me cuidam e que se importam comigo. Pelas orações de pessoas que me conheciam, como também das que não me conheciam. Por ter uma equipe médica excelente e ágil. Por Deus me proporcionar tantos aprendizados.

Vale lembrar: Só vive o propósito quem suporta o processo”.

Fonte: RPI