A pandemia do coronavírus trouxe muitos desafios em 2020, principalmente na educação. Alunos e professores que até então eram acostumados com aulas presenciais, tiveram que migrar para o online, e nem tiveram tempo para se preparar e organizar: estão aprendendo na prática.
Porém, existe outra situação muito preocupante: segundo dados divulgados neste mês pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), no Brasil, 4,8 milhões de crianças e adolescentes em idade escolar, na faixa entre 9 e 17 anos, não tem acesso à internet em casa. Isso corresponde a 17% de todos os brasileiros nessa faixa etária. Desse total, 6% acessam a internet através de outros meios, ou seja, 11% da população não tem nenhum tipo de acesso.
Essa desigualdade digital preocupa, no momento em que a principal forma de manter os alunos estudando é através da internet. Segundo a professora Rúbia Dallabrida Hermann, a realidade existe também em Ijuí, principalmente na área rural. Segundo ela, há uma parcela de alunos que podem ser considerados “esquecidos e invisíveis”, que não tem acesso ao mínimo, como as redes sociais, por exemplo, e não possuem celular ou computador.
Franciele Bertollo também é professora na rede estadual e municipal de Ijuí e se preocupa com a forma como os alunos vão retornar as aulas, na medida em que nem todos tem a mesma oportunidade. Segundo ela, a desigualdade de aprendizagem já existia em sala de aula, antes da pandemia, e no retorno, provavelmente isso será ainda mais evidente.
Segundo o secretário de Educação de Ijuí, Eleandro Lizot, a rede municipal tem conhecimento de que existe uma parcela de alunos que não tem acesso adequado, e que não possuem computador, tablet ou mesmo aparelho celular. Para essa parte dos alunos, segundo Lizot, as escolas organizaram a entrega de materiais impressos, como livros e atividades para que os educandários possam estudar em casa, sem a necessidade de acesso à internet. Já aos demais, Eleandro lembra que foi lançado o “Tá ligado”, canal de comunicação entre escola, pais e alunos onde constam atividades online que estão substituindo as aulas presenciais.
Também preocupado com essa situação, o Deputado Estadual Gabriel Souza (MDB) sugeriu um projeto para reduzir o impacto na qualidade da educação aos que não tem acesso adequado a internet. Com isso, a Assembleia Legislativa devolverá R$ 5,4 milhões do seu orçamento, ao longo de 12 meses, para que a Secretaria Estadual da Educação ofereça internet para smartphones cadastrados de até 900 mil alunos e professores gaúchos. A ampliação da franquia só permitirá acesso a conteúdos educacionais.