Dados mais recentes coletados pelo estudo que está mapeando o avanço do coronavírus (EPICOVID19) sugerem um aumento na prevalência de pessoas com anticorpos para o coronavírus no Rio Grande do Sul nas últimas semanas. Na terceira fase do levantamento, 0,22% das pessoas testadas apresentaram resultado positivo. Na testagem anterior, realizada no último fim de semana de abril, esse índice havia sido de 0,13%.
No primeiro levantamento, há um mês, foi de 0,05%. O aumento da prevalência de pessoas com anticorpos no Estado veio acompanhado de uma diminuição do número de pessoas respeitando as orientações de distanciamento social. Entre o primeiro levantamento e o último, o percentual da população que relatou sair de casa diariamente aumentou de 20,6% para 30,4%.
Nesta terceira etapa, realizada no último final de semana, os pesquisadores realizaram 4.500 entrevistas e testes, dos quais dez apresentaram resultado positivo. Os novos dados estimam que, para cada 1 milhão de habitantes no Rio Grande do Sul, haja 2.200 casos reais de infectados por Covid-19 e apenas 248 casos notificados – ou seja, para cada caso notificado, haveria nove subnotificados. Pela margem de erro, esse número pode variar entre 4 e 16. É importante ressaltar que os números ainda baixos requerem um cuidado extra na interpretação das estimativas.
Em Ijuí, pela primeira vez a pesquisa identificou casos positivos – dois no total – nesta rodada de testes rápidos. Segundo a coordenadora do estudo na cidade, baseando-se na estimativa da pesquisa para o estado – 1 infectado para cada 454 – e considerando uma população de 80 mil habitantes, Ijuí pode ter em torno de 176 casos.
A pesquisa também aponta um pequeno aumento no percentual de pessoas que relatam sair de casa todos os dias, de 33,8% para 35,2% dos entrevistados. Foram 500 residências visitadas nesta rodada.
“Essas pessoas podem estar disseminando a infecção, por isso a adoção de medidas individuais de proteção é fundamental para se proteger e proteger os outros”, observa Evelise. Nesta quarta-feira, às 19h, a equipe de professores que está atuando na pesquisa realizará uma Live, no Facebook da Universidade, para detalhar a terceira etapa para a comunidade ijuiense.
O teste utilizado (WONDFO SARS-CoV-2 Antibody Test) avalia anticorpos produzidos pelo organismo após a infecção, e não identifica o vírus ativo logo após o contágio. Ele pode produzir 15% de falsos negativos e 1% de falsos positivos – ainda assim, foi recentemente avaliado como uns dos melhores no mercado.
“Os casos notificados representam apenas uma parcela do total, confirmando a nossa teoria do iceberg de que existe uma parte visível, representada pelas estatísticas oficiais, e uma parte submersa, que precisa ser conhecida para que sejam tomadas as melhores decisões para o seu enfrentamento”, afirma Pedro Hallal, coordenador do projeto.
A pesquisa ainda está em andamento. A previsão é realizar, até 25 de maio, entrevistas e testes com 18 mil pessoas em nove cidades gaúchas, mas já foram confirmadas pelo menos mais duas fases, cujas datas serão anunciadas em breve.
Os dados obtidos no atual estágio da pandemia são similares aos coletados em outros países como Áustria e Islândia. Eles se referem exclusivamente ao estado do Rio Grande do Sul, mas o EPICOVID19 também será replicado no Brasil inteiro.
A primeira fase do estudo nacional vai a campo nesta quinta-feira, 14 de maio. A previsão é coletar amostras em 133 cidades em todos os estados, realizando mais de 33 mil testes em cada uma das três fases, intercaladas por duas semanas, totalizando quase 100 mil pessoas.
O EPICOVID19 é coordenado pela Universidade Federal de Pelotas e pelo Governo do Estado Rio Grande do Sul. O objetivo do estudo é estimar o percentual de gaúchos infectados pela Covid-19; avaliar a velocidade de expansão da infecção; fornecer indicadores precisos para cálculos da letalidade e determinar o percentual de infecções assintomáticas ou subclínicas. O estudo conta com financiamento do Instituto Serrapilheira, Unimed Porto Alegre e Instituto Cultural Floresta.