Em meio aos desafios enfrentados com a gripe aviária, o Brasil recebeu uma importante notícia vinda de Paris: o país foi oficialmente reconhecido como livre da febre aftosa sem vacinação pela OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal). Esse novo status sanitário abre portas para mercados que antes estavam fechados à carne bovina brasileira, especialmente os mais exigentes e bem remunerados.
Segundo a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), o Brasil, que já é o maior exportador mundial e segundo maior produtor de carne bovina, exportou 2,9 milhões de toneladas em 2023, com receita de US$ 12,9 bilhões. Com a certificação, a expectativa é de crescimento nessas cifras, impulsionado pelo interesse imediato de países como Filipinas e Indonésia e pela possibilidade de negociações com mercados exigentes, como o Japão.
A conquista, porém, vem acompanhada de novas responsabilidades. A retirada da vacinação exige um sistema robusto de vigilância sanitária e rápida resposta em casos de emergência. “Sem vigilância e capacidade de contenção, o risco aumenta significativamente”, alerta Pedro de Camargo Neto, ex-presidente do Fundepec.
Essa vigilância inclui desde os cuidados básicos do produtor até uma estrutura pública eficiente de proteção animal. Em caso de foco, é essencial o isolamento imediato da área para conter a disseminação do vírus. Gedeão Pereira, vice-presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), reforça que o novo status impõe compromissos ao setor público, privado e especialmente aos pecuaristas.
A febre aftosa é altamente contagiosa e seus surtos têm impacto devastador. A CNA lembra que, em casos confirmados, é necessário abater todos os animais da área afetada, gerando grandes perdas econômicas. Por isso, defende-se a criação de fundos de compensação para os produtores.
O Brasil está há quase 20 anos sem registrar casos da doença. O último foco ocorreu em 2006, e desde 2007 Santa Catarina já detém o status de livre sem vacinação. A recente reintrodução da doença na Alemanha, após quatro décadas, serve como alerta para a necessidade de vigilância constante.
A regionalização dos protocolos sanitários, como ocorre atualmente com a gripe aviária, também será essencial para evitar embargos totais à carne brasileira em casos isolados de doença.