Representantes da Câmara Setorial da Ovinocultura da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) se reuniram, na quarta-feira (14/5), para discutir medidas de enfrentamento ao problema da sarcocistose, doença parasitária que condenou 1.099 ovinos abatidos em 2024, um aumento de 1000% em relação a 2023, quando 73 carcaças tiveram que ser descartados por causa da doença.
A reunião para debater soluções à questão sanitária e alternativas para o incremento do abate de ovinos no RS ocorreu no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, durante a Fenasul Expoleite 2025 e contou com a participação do secretário da Seapi, Edivilson Brum. No encontro foi definido que será criado uma comissão com representantes de entidades de produtores e da indústria, sindicatos e órgãos públicos de pesquisa e fiscalização para elaborar medidas de enfrentamento à sarcocistose. Objetivo é que a proposta chegue ao Ministério da Agricultura, em Brasília, para soluções conjuntas ao setor produtivo de ovinos.
A médica veterinária da Seapi Nathalia Bidone apresentou um panorama da sarcocistose no Estado e os impactos no setor. Com base nos dados, as mais de mil carcaças condenadas no ano passado estão no universo de 135.863 que tiveram algum tipo de lesão identificadas pela inspeção durante o abate de ovinos no período. Já os tiveram alguma parte contaminada por Sarcocistose em 2024, número foi de 3.758 casos . A veterinária explicou que o gato participa do ciclo da doença, quando ovelhas entram em contato com comida ou água contaminadas.
Nathalia ainda detalhou que existem diferentes espécies de sarcocystis, algumas com potencial zoonótico e outras, sem. Segundo ela, não há tratamento efetivo, apenas medidas de controle e educação sanitária. “Evitar acesso de gatos às instalações de ovinos, incinerar carcaças de animais mortos ajudam”, ressaltou.
Para o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), Edemundo Gressler, é necessário buscar soluções conjuntas para o setor por meio do grupo de trabalho que será criado. Ele destaca que o debate deve envolver produtores, frigoríficos, poder público e entidades da área, a fim de rever e modernizar a legislação, medidas e fiscalização e rastreabilidade. O Brasil, por exemplo, ainda é um dos poucos países a descartar completamente a carcaça ovina identificada com lesões causadas pela doença. “Vamos organizar nossa pauta e levar a Brasília para somar esforços, assim como já fizemos em 2019, 2020”, afirmou Gressler.
Aristides Vogt, criador de ovelhas e representante da Celebra Alimentos, reforçou que o setor precisa investir e aperfeiçoar as medidas sanitárias por meio de estudos científicos e de orientação dos produtores, tanto de fiscalização como de rastreabilidade. “O problema da sarcocistose não se combate na indústria, nos abatedouros, mas na origem, juntos aos produtores e no modo de manejo”, enfatizou.
Vogt lembrou ainda que a cadeia produtiva de ovinos no RS é concentrada, restringindo-se a cinco frigoríficos que abatem cerca 90% e, a produção, da mesma forma, concentra-se em determinadas regiões, em cidades como Rosário do Sul, Santana do Livramento, Dom Pedrito, Quaraí, São Pedro da Serra, Cacequi, Farroupilha, Salvador do Sul. Por isso o controle da produção fica mais simples e fácil.
Mais controle sanitário e alternativas para aumentar produção
A coordenadora da Câmara da Ovinocultura da Seapi, Elisabeth Lemos, avalizou as medidas de maior controle sanitário no Estado e afirmou que vai encaminhar a organização de uma comissão para tratar do problema da sarcocistose. Segundo ela, o trabalho deve começar imediato e ter representantes das diversas frentes da cadeia produtiva de ovinos. As entidades públicas e privadas ligadas ao setor foram convidadas para a reunião em Esteio e devem compor o grupo de trabalho também.
Além disso, Elisabeth Lemos salientou a importância de buscar alternativas para o incremento do abate de ovinos no RS. Conforme Elisabeth, há um grande potencial de aumentar a produção e disponibilidade de carne de cordeiro no mercado. “Alguns fatores, como mudança de cultura no campo – maior produção de grãos -, falta de incentivos de políticas de financiamento e predadores – como javalis – dificultam a produtividade de carne de ovelha”, cita. Trabalho de aproximação com o público e a imprensa também é fundamental para o incremento da produção, de acordo com a coordenadora da Câmara da Ovinocultura.
Atualmente o RS abate cerca de 190 mil ovinos por ano. Para 2025, objetivo é aumentar o rebanho de ovelhas além dos 20 milhões que têm hoje. Uma ovelha tem cinco meses de gestação. Com mais quatro ou cinco meses, o produto já pode estar no mercado.
Segundo a Arco, em 2024, a assinatura do Fundo de Desenvolvimento da Ovinocultura (Fundovinos), em parceria com o governo do RS, destinou quase R$ 5 milhões para ações de fortalecimento da ovinocultura gaúcha. O encaminhamento da Rota da Ovinocultura, programa da União através do Ministério do Desenvolvimento Regional, foi outro ponto positivo em 2024.