De 29 de maio a 2 de junho, técnicos da Farsul, CNA e Esalq-Cepea realizaram a rodada da coleta de dados para levantamentos de custos de produção das cadeias de grãos do programa Campo Futuro. Os painéis aconteceram em Carazinho, Cruz Alta, Tupanciretã, Uruguaiana, Bagé e Camaquã para as culturas de soja, milho, trigo e arroz e contaram com a participação de produtores rurais e representantes de sindicatos.
Os levantamentos apontaram margens apertadas para as atividades, considerando a seca que atingiu em vários níveis os municípios visitados. A produtividade média da soja variou de 18 sacas por hectare, em Bagé, até 37 sacas em Camaquã e Carazinho. De forma geral, a expectativa de colheita era de mais de 60 sacas.
Em relação ao arroz, a produtividade esperada de 180 sacas por hectare não foi atingida em Uruguaiana, que colheu 160 sacas. Já o trigo surpreendeu os produtores de Carazinho e Cruz Alta, que colheram safras recordes. Por outro lado, os insumos pesaram nos custos de produção, principalmente para os fertilizantes e herbicidas. Em Carazinho, os fertilizantes para o milho subiram 68% e os herbicidas para a soja, 146%.
O economista da Farsul e responsável pelo levantamento no estado, Ruy Silveira, destaca que os resultados desta safra foram ainda mais difíceis em termos financeiros do que a anterior. “Embora em termos de produção, da quebra de safra, esta não foi tão grande quanto a anterior, ela se espalhou mais, foi bem mais uniforme. Não teve uma região que foi atingida e outras não sofreram nada. Foi bem ampla, a gente viu que em todas as regiões tiveram quebras significativas”, avaliou.
Ele chama a atenção para o aumento dos custos que, em algumas regiões chegou a 30% em média. “Ele subiu demais e a receita vem numa queda muito grande. Ou seja, a gente planta uma safra com custo alto e comercializa numa safra já com perdas a um valor em queda. Esse foi o pior cenário que a gente poderia imaginar para a estiagem que aconteceu. Foi, em resumo, muito mais crítico do que no ano passado”, descreve.
Em relação ao trigo, Silveira classificou como um ano singular. “Foi o melhor ano que a gente já viu da série histórica, embora os custos estejam extremamente elevados. O que identificamos nas regiões, principalmente, em Carazinho e Cruz Alta, foi que a produtividade foi ótima, histórica. Foi um inverno muto frio e seco. A chuva que faltou no início da safra de verão foi o que ajudou o trigo no período de colheita”, explicou.
O economista comentou que em Carazinho, por exemplo, os produtores conseguiam cobrir os custos das lavouras de trigo e garantiram uma média de R$ 600,00 por hectare, “o que é muito considerável para a realidade do trigo. Em Cruz Alta o negócio ficou bem mais apertado, mas, mesmo assim, sobrou cerca de R$ 100,00 de margem e em Tupanciretã, que é outro levantamento que a gente também tem de trigo, quebrou. Não pagou nem o custo operacional”, ponderou.
Silveira também ressalta que as regiões onde o levantamento considera apenas uma cultura como Bagé, com soja e Uruguaiana, com arroz a pressão sob o caixa foi maior por não haver outra cultura para dar suporte. “Já no caso de quem tem safra de inverno, ele conseguiu trabalhar um pouco melhor o caixa dele. O trigo acabou contribuindo mais nos custos fixos, colaborando melhor na questão de fluxo de caixa e o arroz a mesma coisa. Como a soja tem o preço em queda e o arroz tem um preço um pouco sustentado ainda, eles podem comercializar o arroz. O trigo também, que está num preço mais interessante em termos históricos comparado com a soja. Quem tem outras culturas conseguiu ter um pouco mais de resiliência em comercializar. No geral, o que a gente tira é que esta foi, definitivamente, a safra com os piores problemas econômicos e financeiros já avaliados na última década”, alertou o economista.