Após semanas de confronto, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, deram sinais de alinhamento e trocaram afagos em evento de lançamento do “Em Frente, Brasil”, realizado nesta quinta-feira (29), no Palácio do Planalto.
O primeiro sinal de reaproximação ocorreu no começo do evento. A pedido de Bolsonaro, o ministro atrasou a sua descida pela rampa que leva ao salão do evento para acompanhar o presidente. Na rampa, eles se abraçaram e foram aplaudidos pelos presentes. Depois sentaram um ao lado do outro. Os demais ministros desceram separadamente. Em seu discurso, Bolsonaro disse que Moro “é um patrimônio nacional” que abriu mão de 22 anos de magistratura “não para entrar numa aventura, mas sim na certeza que todos nós juntos podemos fazer melhor para nossa pátria”.
O presidente afirmou mais de uma vez que seus ministros têm “liberdade”. “Eles devem satisfação a vocês, povo brasileiro. E eles têm uma coisa importante: iniciativa. Têm essa liberdade de buscar soluções ao nosso Brasil”, declarou o presidente. Moro também fez acenos ao presidente. Afirmou que o programa “Em Frente Brasil” foi desenvolvido seguindo orientações de Bolsonaro. “É certo que não devemos ignorar esforços que governadores e prefeitos estão fazendo, mas é inegável o mérito do governo federal e do presidente”, disse.
O ministro declarou que a criminalidade tem caído em ritmo mais rápido no governo Bolsonaro, o que, segundo ele, não tem sido corretamente observado pela imprensa. “Não me lembro de outro período com redução de 20% dos homicídios nos 4 primeiros meses de governo”, declarou ele.
O “Em frente Brasil” prevê a união das forças de segurança municipal, estadual e federal para atacar o problema de violência urbana. O projeto-piloto será feito em cinco cidades, uma em cada região do País: Ananindeua (PA), Paulista (PE), Caiacica (ES), São José dos Pinhais (PR) e Goiânia (GO). A ideia é aliar medidas de segurança pública e ações sociais e econômicas.
O ministro afirmou que a ideia do projeto é, além de reduzir crimes violentos, trabalhar de forma preventiva ao melhorar políticas públicas nos municípios. “Também temos de enfrentar causas da criminalidade, eventualmente relacionadas a degradação urbana e abandono”, disse.
A reaproximação vinha sendo sinalizada durante a semana. Bolsonaro e Moro tiveram uma conversa reservada no Planalto terça-feira, 27, quando conversaram sobre uma “rede de intrigas” que teria o objetivo de desgastar a relação dos dois, como noticiou o Estado. Horas após o encontro, ambos trocaram afagos nas redes sociais. Moro tuitou que o presidente tem compromisso com o combate à corrupção. Bolsonaro respondeu: “Vamos, Moro!”.
Em novo aceno a Moro, o Planalto reforçou na quarta-feira, 28, que o ministro tem autonomia para decidir sobre troca de comando da Polícia Federal. O porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, disse que Bolsonaro “nomeia ministros e dá a eles autonomia de escalarem seus times”. A declaração ocorreu em resposta a Moro afirmar, em entrevista à Globonews, que manteria Maurício Valeixo no comando da polícia.
As críticas sobre ameaças de interferência de Bolsonaro na polícia eram pontos de desgaste e incômodo do presidente, segundo interlocutores do presidente. Interlocutores de Bolsonaro disseram que, antes da reaproximação, ele havia se incomodado com a resistência de Moro a atender algumas de suas sugestões.
Os dois lados sempre negaram, contudo, que a relação estivesse próxima de uma ruptura. Eles admitem ainda a pessoas próximas que a saída do ministro seria ruim para o governo e para o próprio Moro.