Procurador da República alerta na Rádio Progresso para abandono da malha ferroviária na região de Ijuí

9 de dezembro de 2025

O Procurador da República Osmar Veronese voltou a manifestar preocupação com a situação das ferrovias brasileiras, especialmente no Rio Grande do Sul, durante entrevista concedida à Rádio Progresso. Ele atua há mais de 20 anos na defesa do patrimônio ferroviário, enfrentando problemas históricos como depredação de estações, furtos de trilhos e abandono de estruturas.

Segundo Veronese, o cenário continua se agravando. A Malha Sul, maior concessão ferroviária do país, administrada pela Rumo, abrange 7.223 km, começando em São Paulo, passando pelo Paraná e Santa Catarina, até chegar ao Rio Grande do Sul, que possui cerca de 3.200 km. No entanto, propostas de renovação ou nova licitação apresentadas pela empresa ao Ministério dos Transportes sugerem a manutenção de apenas cerca de 2.000 km, deixando mais de 5 mil km abandonados, incluindo trechos que passam por Ijuí e Cruz Alta.

O procurador explicou que o Ministério Público Federal instaurou uma ação para coordenar uma atuação interna e tentar readequar o contrato vigente, firmado há 29 anos e válido até 24 de fevereiro de 2027 que, segundo ele, tem custado caro à sociedade. Entre os problemas apontados estão o desgaste das rodovias devido ao excesso de caminhões, reflexo da falta de alternativa ferroviária, e o abandono da manutenção em diversos pontos da malha.

Por meio de um inquérito, o MPF busca apurar os custos dessa deterioração e a qualidade da prestação de serviços da concessionária, que, segundo Veronese, não vem ocorrendo de forma adequada. O procurador destacou ainda que o Brasil segue na contramão de países menores, que têm ampliado significativamente seus trechos ferroviários.

Ele citou exemplos aqui da região Noroeste, onde a desativação gradativa das linhas impactou a economia local: a ferrovia rumo a Santo Ângelo tornou-se obsoleta, Ijuí perdeu grande parte de sua capacidade de transporte ferroviário, Santa Rosa já não conta mais com trem, enquanto municípios como São Luiz Gonzaga, Santiago, Cruz Alta e Passo Fundo registram movimentação mínima.

A intenção da Procuradoria, segundo Veronese, é resgatar o máximo possível dos trilhos e fortalecer os modais ferroviários. Ele afirmou que alternativas como Parcerias Público-Privadas estão sendo discutidas como forma de amenizar o cenário atual. Para recuperar a malha, estima-se a necessidade de investimentos entre R$ 20 e R$ 30 bilhões.

Veronese também solicitou formalmente que a Rumo cesse a remoção de trilhos e a transferência de vagões para outros estados prática que, segundo ele, vinha ocorrendo e agravando ainda mais o quadro de abandono da estrutura ferroviária gaúcha.