A análise do cenário do agronegócio vai além do plantio, da colheita, do tipo de cultura, ou da questão do clima. É importante observar fatores que implicam também na comercialização do grão, que é o fechamento deste ciclo. O especialista da Sicredi das Culturas RS/MG no segmento do agronegócio, Leonardo Lopes de Moura, afirma que há oportunidades no mercado que podem potencializar e otimizar os ganhos em uma propriedade agrícola, com aumento da receita final do produtor.
“Quando falamos do preço de uma saca de soja, por exemplo, é importante compreender quais são os componentes de formação desta commodity, como o Bushel, que é uma medida de valor negociada na bolsa de Chicago; o prêmio de exportação; e a questão do câmbio. Cada um destes componentes tem suas variáveis, e ao entendermos sua dinâmica, podemos observar as tendências e oportunidades deste mercado”, explica Leonardo.
O Bushel reflete a oferta e a demanda mundial e o comportamento dos fundos de investimentos de uma commodity. “Em relação à oferta e demanda, é importante ressaltar a dinâmica do mercado e suas sazonalidades. Por exemplo, estamos observando variações no preço do Bushel, devido ao momento climático americano. Chuvas abaixo do esperado representaram um comportamento de alta em Chicago, mas após divulgações otimistas na safra americana, podemos observar tendências de baixa, como ocorreu na semana passada, quando o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos divulgou em um relatório que 59% das lavouras de soja encontram-se com plantas em bom ou excelente estado, frente aos 54% da semana anterior. Já nesta semana, foi divulgado que os 59% se mantiveram e que a expectativa para o começo de setembro é de tempo quente e seco nos Estados Unidos, elevando as cotações em Chicago para os próximos meses”, destaca o especialista em agronegócio da Sicredi das Culturas RS/MG.
Em relação ao câmbio, Leonardo reitera que se trata especialmente do dólar, que atualmente está cotado abaixo dos R$ 5,00. “A política monetária americana interfere diretamente no câmbio, que por sua vez será outro fator na formação de preço do grão. Por exemplo, vimos o dólar chegar à casa dos R$ 4,98 por alguns fatores, dentre eles, a divulgação da ata do Banco Central Americano, na qual o comitê de política monetária dos Estados Unidos eliminou a previsão de recessão econômica para este ano, fazendo com que o dólar ganhasse força. Nesta quarta-feira, 24 de agosto, vimos novamente o dólar recuar, devido ao andamento da votação do arcabouço fiscal no Congresso, que fez a moeda americana fechar o dia cotada a R$ 4,85”, observa.
Leonardo, que atua como gerente da Plataforma Agro da agência Corporate da Sicredi das Culturas RS/MG, afirma que o produtor pode aproveitar as sinalizações do mercado americano para a safra de verão no Brasil: “é importante o produtor estar atento aos sinais do mercado, para saber quais as projeções de safra para 2024, como a questão da produtividade da safra americana. Os Estados Unidos são o segundo maior produtor de soja do mundo, e o Departamento de Agricultura Americano fez uma projeção de 114 milhões de toneladas do grão para essa safra. Além disso, no mês de setembro teremos um período decisivo para a colheita da safra norte-americana. Há também uma estimativa de recuperação da safra Argentina, onde se espera uma produtividade de cerca de 48 milhões de toneladas. Existe ainda expectativa em relação à produção da safra brasileira, que neste ano colheu acima dos 155 milhões de toneladas, isso apesar da forte estiagem que tivemos na região noroeste e sul do Rio Grande do Sul, gerando alta oferta, com pressionamento do Bushel em Chicago e queda no prêmio de exportação, como vimos no início do primeiro semestre deste ano”.
De acordo com Leonardo, a expectativa de colheita no Brasil está acima dos 165 milhões de toneladas para a safra 2023/2024. Isso significa que com maior oferta de produto, diante de uma demanda global já estabelecida, os prêmios de exportação serão negociados de forma negativa, com pressionamento do preço do Bushel em Chicago, que atualmente está na faixa dos 13,70 – 13,80 dólares por Bushel, para os meses de março, abril e maio, momento em que boa parte da área de soja será colhida no país.
“Caso o produtor identifique oportunidades de comercialização, a partir da composição de preço de uma commodity, como a soja, pode otimizar seus ganhos fazendo investimentos, a fim de se proteger das oscilações de mercado, obtendo boa rentabilidade e segurança. Por exemplo, comercializando uma saca de soja, no valor de R$ 135,00, e investindo este valor, em um ano, somando o rendimento, obterá R$ 152,00, ou seja, além da segurança, da proteção da oscilação do preço do mercado, terá um bom rendimento no período, aumentando de fato a sua rentabilidade”, destaca o gerente da Plataforma Agro da agência Corporate da Sicredi das Culturas RS/MG.