Com a transição do inverno para a primavera, os produtores enfrentam um período de desafio na alimentação do rebanho. Nesse momento de entressafra, ocorre a redução da qualidade das pastagens, as espécies de inverno perdem vigor e as de verão ainda estão em início de desenvolvimento, resultando em baixa disponibilidade de forragem para os animais.
Além da queda no valor nutritivo, é nesta época que surgem plantas tóxicas, como a maria-mole (Senecio spp.), que, se consumida, pode causar intoxicação e morte dos bovinos. Isso exige atenção redobrada no manejo dos campos e na oferta de alternativas alimentares seguras.
“A maria-mole contém alcaloides pirrolizidínicos, que se transformam em pirróis no fígado. Esses pirróis impedem a mitose hepática, processo que permite a regeneração do órgão. Com a mitose bloqueada, o fígado perde sua função, o que leva ao surgimento de sintomas que resultam na morte do animal”, explica Fernando Karam, chefe do Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa em Saúde Animal Desidério Finamor (IPVDF), vinculado ao Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (DDPA/Seapi), e parceiro da Emater/RS-Ascar na orientação de práticas agropecuárias.
Segundo Jaime Ries, assistente técnico estadual da Bovinocultura Leiteira da Emater/RS-Ascar, a entressafra é estratégica porque influencia o desempenho produtivo e reprodutivo dos animais. “A redução na qualidade do pasto compromete o ganho de peso e a condição corporal das vacas, podendo refletir em deficiência reprodutiva”, destaca o extensionista.
Suplementação em bovinos
A suplementação pode ser realizada de diferentes formas, dependendo da categoria animal e do objetivo do produtor. O sal proteinado é indicado quando a limitação principal é de proteína. Favorece a digestibilidade do pasto e estimula o consumo de forragem, sendo útil em períodos de pastagem seca ou de baixa qualidade.
Os suplementos energéticos são utilizados quando há necessidade de aumentar a energia da dieta, auxiliando no ganho de peso, especialmente em sistemas de engorda. Já os suplementos volumosos, como silagem de milho, sorgo ou feno, complementam a dieta quando há escassez de pasto, garantindo o aporte de fibra e energia.
O momento ideal para iniciar a suplementação é quando se observa queda na disponibilidade ou qualidade da forragem, o que geralmente acontece no fim do inverno e começo da primavera. O monitoramento das pastagens e a avaliação da condição corporal dos animais são ferramentas práticas para definir o início do fornecimento.
Segundo o extensionista Jaime Ries, “a definição da quantidade depende de fatores como categoria animal (vacas em lactação, novilhos em engorda ou bezerros em recria), objetivo de produção e qualidade do pasto disponível”, ressalta.
Em linhas gerais, recomenda-se que o suplemento represente entre 0,5% e 1% do peso vivo do animal em sistemas de engorda, podendo variar em situações específicas. A orientação técnica, feita por meio da assistência da Emater/RS-Ascar, é fundamental para ajustar a dieta conforme cada realidade.
Mais do que um custo, a suplementação deve ser vista como um investimento na produtividade e na saúde do rebanho. Animais bem nutridos apresentam melhor desempenho, maior resistência a doenças e maior eficiência reprodutiva, resultando em melhores índices econômicos para a propriedade.
“A suplementação garante que os animais não percam condição corporal nesse período crítico e permite que mantenham um bom desempenho produtivo. É uma estratégia que traz retorno direto ao produtor, tanto no leite quanto na carne”, explica Ries.