Desde março, uma nova regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem preocupado empresas e despachantes que operam no Centro Unificado de Fronteira São Borja–Santo Tomé, porto seco localizado na divisa entre Brasil e Argentina. A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 938/2024 estabelece exigências rigorosas para recintos alfandegados que lidam com alimentos perecíveis e produtos sujeitos à vigilância sanitária, incluindo câmaras frias, armazéns com temperatura controlada e monitoramento online.
A Mercovia S.A., concessionária responsável pelo porto seco e pela ponte internacional, afirma que não realiza armazenagem ou fracionamento de cargas no local. Segundo a empresa, os produtos sob controle da Anvisa sempre foram liberados diretamente nos caminhões, sem necessidade de descarregamento. No fim de abril, a concessionária enviou um ofício à Anvisa alertando que os indeferimentos das cargas importadas têm causado prejuízos financeiros significativos aos operadores logísticos da região.
A principal solicitação da Mercovia é a prorrogação do prazo para atender às exigências da nova norma, ao menos até a definição sobre a nova concessão do terminal. O leilão previsto para 4 de abril foi cancelado pela segunda vez por falta de propostas, e a incerteza sobre o futuro da concessão permanece. A atual gestão segue válida até 29 de agosto de 2025. Caso não haja uma solução conjunta, a empresa cogita recorrer à Comissão Mista Argentino-Brasileira.
A situação mobilizou autoridades locais. O vereador Matteus Bronzoni (PDT) destacou que o porto seco atua apenas como ponto de passagem e desembaraço aduaneiro, sem armazenagem de produtos, e defende a extensão do prazo de adequação. Já o deputado estadual Tiago Cadó (PDT) levou o tema à Comissão de Economia da Assembleia Legislativa, pedindo a presença de representantes da Anvisa e da Mercovia para discutir o que considera exigências excessivas.
A ponte internacional, com 1,42 km de extensão, foi construída a partir de um acordo bilateral firmado em 1989. A nova concessão terá validade de 25 anos e prevê obras de modernização, como ampliação de acessos, área para veículos apreendidos, pátio exclusivo para caminhões e novo sistema de iluminação.