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Misto de emoções: moradora de Eldorado do Sul relata dificuldades ao retornar para casa

6 de junho de 2024

Moradora de Eldorado do Sul, o município mais afetado pelas enchentes no Estado, a consultora de amamentação Anelise Gusmão Martins viveu na pele o desespero de precisar deixar tudo para trás. Ela, seu marido e os filhos do casal, de 3 e 8 anos, saíram de casa no dia 3 de maio e somente na semana passada, depois de 26 dias, foi possível retornar. Agora, ela vivencia um misto de emoções: a felicidade de estar de volta, o medo de acontecer de novo e a tristeza pelas lembranças destruídas.

Em entrevista à Rádio Progresso nesta quinta-feira (06), Anelise relatou que ela e seus vizinhos foram surpreendidos pela inundação, porque o bairro em que ela mora em Eldorado do Sul nunca havia alagado. “Não houve nenhum aviso da Defesa Civil para que fosse evacuado nosso bairro. O que houve foi a movimentação dos próprios vizinhos, uns falando com os outros e uns tentando ajudar os outros”, afirmou.

Na manhã do dia 3 de maio, ela e sua família deixaram a casa onde vivem para buscar um local mais seguro para se abrigarem. “Em primeiro lugar a gente tirou o carro de casa, porque a gente achou que a água ia subir e poderia pegar no carro. Só que nesse meio tempo de tirar o carro e voltar para casa a água já subiu muito. A gente acordou às 7h e a rua estava seca. Quando eram 9h a água já estava entrando no meu portão e continuava subindo muito rapidamente. Então eu disse para o meu marido: ‘vamos entrar, erguer tudo que dá e a gente vai sair, porque não tem condições de ficar aqui’”, contou Anelise.

A ideia inicial era ir para a casa do irmão dela, em Gravataí, contudo, com as pontes bloqueadas a única saída era se deslocar para o município de Guaíba. Lá, eles se hospedaram em uma pousada por alguns dias e, depois, Anelise conta que foram acolhidos por uma amiga, que abriu as portas de sua casa para recebê-los até a rodovia ser liberada. Já na casa do irmão de Anelise, a família permaneceu por mais 15 dias. Entretanto, vários de seus vizinhos relutaram em deixar suas residências, precisando ser resgatados de bote mais tarde. “Teve muita gente que não quis se arriscar, pegar o carro e sair, achando que a água não ia subir tanto no nosso bairro, porque aqui são pessoas que nunca passaram por nenhuma enchente, então a gente não sabia o que fazer, não sabia a dimensão do que poderia acontecer”, explicou.

Nas duas semanas em que ficaram na casa de familiares, o marido de Anelise se deslocava todos os dias de Gravataí para Eldorado para realizar a limpeza mais pesada da residência, antes dela retornar com as crianças. Segundo a consultora, o cenário era de muita sujeira, lama e destruição. Diversos móveis, eletrodomésticos, roupas e brinquedos precisaram ser descartados. “Mas o que mais me pegou foram as fotos. Meu álbum de formatura, as fotos das gestações das crianças, essa memória afetiva é a parte mais dolorosa”, afirmou.