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Diminuição da oferta contribui para aumento no valor do leite

27 de julho de 2022

O preço do litro do leite disparou nos últimos meses. Em Ijuí, o preço médio do leite de caixinha está em R$ 7, mas o produto pode ser encontrado por mais de R$ 10, dependendo da marca. O aumento no valor pago pelo consumidor final, no entanto, não representa ganho para o produtor, que padece com a baixa lucratividade da atividade. 

A reportagem da Rádio Progresso buscou explicações junto ao Sindicato das Industrias de Laticínios (SINDILAT) do Rio Grande do Sul para entender os motivos que contribuíram para o aumento expressivo no valor final. Em entrevista, O assessor executivo do Sindicato, Darlan Palharini, explicou que o aumento do preço nesta época do ano, já era esperado, já que é algo sazonal, influenciado pelo período de entressafra e ocorrência menor de chuvas.

Além disso, segundo Palharini, outros fatores contribuem significativamente para o aumento: à alta de commodities como milho e soja, principais insumos para a fabricação de rações; diminuição da oferta, estiagem e pandemia. A redução na produção leiteira não se restringe ao Rio Grande do Sul e ocorre em todo o país, fazendo com que o preço pago ao produtor (e consequentemente pago pelo consumidor final) aumente. “Antes responsáveis pelas indústrias buscavam o produto na Argentina e Uruguai, para manter o preço no mercado interno, no entanto, esses países também registram dificuldade na produção”, explicou. 

“A questão do petróleo tem peso muito grande, especialmente no caso do leite de caixinha. Outra questão muito importante é que o produto pode ser encontrado por um valor significativamente menor em capitais, como Porto Alegre, do que em Ijuí, que é um grande produtor de leite, porque as indústrias não estão nas proximidades”. 

A distância entre as indústrias com o consumidor final aumentou significativamente. “Antes o valor cobrado era R$ 0,08 por litro; atualmente é R$ 0,15”, disse Darlan. Além disso, o valor pago ao produtor ainda é baixo, apesar de ter registrado um aumento tímido (de R$ 1,95 por litro, para R$ 2,80). 

Para além da questão de oferta e demanda, a alta no preço do leite é influenciada pelo aumento nos custos de produção, o que contribuiu para um abandono massivo da atividade da região. Somente em Ijuí, mais da metade dos produtores deixaram a atividade nos últimos dez anos, segundo dados disponibilizados pela Emater no início de 2022.

Darlan destaca que a ração animal teve um aumento de preço acima da inflação, depois de um período grande de estiagem, o regime pluviométrico acima da média também prejudicou algumas pastagens, levando a uma dependência maior das rações.  “O ponto de desequilíbrio foi em 2020, quando o preço da soja, milho e farelo, componentes principais da dieta de gado de leite praticamente duplicou os valores. O preço dos derivados em 2020 e 2021 retornou aos patamares de 2019. Prejuízo para as indústrias e produtores, que abandonaram a atividade por falta de rentabilidade”, disse. 

O prejuízo é ainda maior para quem produz até 300l. “Tanto que no primeiro trimestre a queda de produção brasileira foi de 10% em relação ao trimestre anterior. Em números, foram 500 milhões de litros a menos, o equivalente quase a produção do estado de Santa Catarina inteiro, no trimestre”. 

Produtora de leite há 15 anos, Neusa Savik diz que a família já considera deixar a atividade. “O problema é que o custo é muito alto e o tempo de dedicação ao trabalho também. Se estraga alguma coisa, é muito caro para arrumar”. A produtora disse ainda que o aporte dado pelos governos para o setor leiteiro, é mínimo. 

Fonte: Rádio Progresso de Ijuí